Quando comecei a desenhar o Soror, eu tinha uma certeza que era a de que ele precisava nascer. Como ele ia nascer eu não sabia ainda. O Soror sempre esteve adormecido dentro de mim como uma utopia. Sabe aqueles devaneios que temos quando jogamos na Mega Sena acumulada? Pois é, eu sonhava com o Soror (que ainda não tinha esse nome) para construí-lo se um dia ganhasse na loteria ou conseguisse juntar dinheiro de alguma forma.
Mas no dia 1o de janeiro de 2020, nas primeiras horas do dia, passei em frente a um condomínio empresarial recém construído na mesma avenida em que moro. Eu estava quase dormindo, exausta do Réveillon, mas despertei. Eu queria uma sala ali, queria construir meu sonho naquele lugar. Como? Não sei. Só sei que dia 2 de janeiro eu já estava lá com a corretora para descobrir quanto custava, quais as condições de pagamento, como era a sala por dentro, quanto era o condomínio...
Voltei para casa e comecei a fazer conta. E, a partir do desejo de ter um lugar para transformar aquilo que para mim era mera utopia em realidade, comecei a colocar no papel o que eu queria realizar. E o Soror começou a ser desenhado.
Porém, estávamos em vias de comprar a sala dos sonhos (pelo menos dos sonhos naquela época) e eu não tinha R$1 no Banco. Muito pelo contrário, tinha muitas contas a pagar e não sabia de onde ia tirar esses recursos sem que eu precisasse revelar meus segredos financeiros para o meu marido.
Eu decidi vender os meus sapatos. Eu era uma ávida colecionadora de escarpins de tirar o fôlego. A maioria só tinha sido usada uma ou duas vezes e lembrava que as minhas alunas babavam por eles. Criei uma campanha que chamei de R$100,00 para um sonho e comecei a colocar tudo o que fosse vendável à disposição.
Muita coisa foi vendida, consegui levantar uma quantia considerável e paguei alguns dos custos do projeto. Porém, veio a pandemia, a campanha foi suspensa e iniciamos o distrato da sala.
As coisas não vendidas (e nem catalogadas) ficaram ali, olhando para mim, como um grande peso no meio da casa. Um peso das minhas péssimas decisões com dinheiro no passado, um peso de um sonho que precisou mudar de forma, de um projeto que precisou mudar de direção. E ontem eu resolvi criar um site na internet e colocar todas as peças lá. E fui pegando peça a peça, fotografando, procurando fotos originais da loja de origem e organizando.
O curioso foi que eu havia feito uma consultoria de imagem e as peças do bazar seriam parte das que “descartamos” para que eu pudesse ficar com um closet cápsula (as outras seriam doadas mesmo). Porém, a medida que fui buscando as imagens originais nas redes sociais das lojas em que as comprei, fui encontrando fotos das peças de roupas que eu havia decidido ficar. Veio o desejo de colocá-las no bazar, mas eu sabia que as havia usado pouco e que havia pago muito caro por elas.
Levantei, tomei um café (talvez dois), comi bolo (não revelarei a quantidade) e decidi que o meu sonho é mais importante do que qualquer apego consumista que eu venha a ter.
Nesse movimento de arrecadar dinheiro para o meu sonho, passei por diversas fases. No princípio eu tive raiva, afinal, estava vendendo uma peça usada uma ou duas vezes por 30% do preço que paguei para adquirir. Meu marido até comentou que se eu tivesse sido mais comedida com meus gastos, hoje compraríamos a sala à vista e montaríamos o Soror sem precisar fazer campanha alguma.
Porém, eu me pus a refletir, se eu não tivesse atravessado por tudo o que atravessei, talvez não tivesse bagagem para criar o Soror. E, mesmo que eu tenha perdido dinheiro no caminho, o fato de estar usando os meus deslizes do passado para engajar pessoas a auxiliar na realização deste sonho, não tem preço.
O propósito do Soror é dar ferramentas para mulheres empreenderem com segurança e prosperidade, é criar uma rede de apoio física e virtual. Eu sei que ainda não deixei claro para vocês o que de fato é o Soror (e isso é proposital). Mas quero que saibam que o Soror é um sonho meu para realizar o sonho de todas nós.